terça-feira, 21 de junho de 2011

A CRISE DOS 40 ANOS

Já no segundo século de nossa era, os hindus enfocavam a vida como uma série de passos, em que os prazeres anteriores iam ficando para trás a medida que eram substituídos por objetivos mais elevados e apropriados:
- A 1ª etapa era compreendida entre os 8 anos e princípios dos anos 20 em que se era estudante e a única obrigação era aprender.
- A 2ª etapa era marcada pelo matrimônio, consistia em formar a família e ia dos 20 aos 40 ou 50 anos. Esses anos seriam vividos para satisfazer as necessidades do ser humano: prazer principalmente através da família, êxito através da sua vocação e deveres através do exercício da cidadania.
- A 3ª etapa iniciava quando a idade reduzia os prazeres do sexo e dos sentidos, quando alcançar o êxito já não representava uma novidade e cumprir os deveres se convertia em rotina. Nessa etapa começava o tempo do retiro, em que o indivíduo podia ser livre para começar sua verdadeira educação como adulto, de descobrir quem é e de refletir sem interrupção no significado da vida. Nesse período a pessoa é estimulada a viver como peregrino. O homem e sua esposa, se assim o desejar, internavam-se na solidão dos bosques numa viagem de autodescobrimento, suas responsabilidades seriam restritas ao que se referia si mesmos.
- A 4ª e última etapa começava quando o peregrino alcançava sua meta, é o estado de sannyasin. Sem obrigações, nem bens, o sannyasin é livre para andar e mendigar na porta traseira da casa de alguém, de quem fora amo em outros tempos. Neste estágio, o sannyasin se define como "aquele que não odeia e nem ama’ e que ‘vive identificado com o EU eterno e não contempla nenhuma outra coisa". ( Gail Sheehy – Las crisis de la edad adulta . Ed.Grijalbo,S.A 1984.p.5l7)

Shakespeare, no discurso "Todo o mundo é um teatro", tentou dizer que o homem vive através de 7 etapas. ( Ibid.p.30)

Else Frenkel-Brunswik foi a primeira psicóloga a enfocar o ciclo vital por etapas e concluiu que todas as pessoas passam por 5 fases claramente delimitadas. (Ibid. p.30)

Posteriormente, Erik Erikson descreveu o ciclo vital em 8 estágios ou as 8 idades do homem:
Confiança Básica versus Desconfiança Básica
Autonomia versus Vergonha e Dúvida
Iniciativa versus Culpa
Indústria versus Inferioridade
Identidade versus Confusão de Papel
Intimidade versus Isolamento
Generatividade versus Estagnação
Integridade do Ego versus Desesperança.
( Erik H.Erikson- Infância e Sociedade.Ed.Zahar.1976.pp.227-248 )

Daniel Levinson, também concluiu que os adultos evolucionam por períodos. A pessoa só passa ao seguinte período quando se dedica a novas tarefas evolutivas e constrói uma nova estrutura para sua vida. Para ele, nenhuma estrutura pode prolongar-se mais de 7 ou 8 anos. ( Gail Sheehy – Las crisis de la edad adulta. Ed.Grijalbo.1984. p.32)

A experiência de muitas vidas nos ensinam que "nenhuma idade nem acontecimento pode, em si mesmo, impedir que o espírito humano se estenda mais além de seus limites anteriores". ( Ibid. p.39)


Atualmente a Vida Adulta pode ser dividida a grandes rasgos em 4 etapas ou idades:
a 1ª idade que vai dos 20 aos 40 anos
a 2ª idade que vai dos 40 aos 50 anos
a 3ª idade que vai dos 50 aos 65 anos
e a 4ª idade ou velhice ocorre a partir dos 65 anos.
( F.Lopez, A Fuerte- Para comprender la sexualidad.Ed.Verbo Divino.1991.pp.89-105)

Cada etapa é assinalada por uma crise. Crise não implica uma catástrofe mas um ponto decisivo, uma característica dos momentos decisivos entre o progresso ou a regressão. Nesse momento ou se alcançam logros ou se produzem fracassos, que fazem com que o futuro seja melhor ou pior, mas que em qualquer caso, o reestruturam. ( G.Sheehy-Las crisis de la edad adulta.. Ed.Grijalbo.S.A, 1984.p.31s.)

No esquema hindu, como em nossa divisão ocidental do ciclo vital, podemos perceber uma semelhança entre o que ocorre entre a 2ª e a 3ª etapa hindu e o que ocorre entre a 2ª e a 3ª Idade da Vida Adulta. Tanto homens como mulheres, podem sofrer o que se tem chamado de Crise da Meia Vida, Crise dos 40 anos. Ocorre uma plena crise de autenticidade. Trata-se de um ponto crítico da vida em que se torna imperioso analisar e reexaminar nossa vida: Que fiz? Que faço? Por que faço tudo isso? Onde realmente vou chegar com essa vida que levo? Em que realmente creio? Como vou direcionar minha vida a partir de agora? No mais íntimo de nosso ser se registra uma mudança de percepção com relação à segurança e o perigo de vida, o tempo e a falta de tempo, a atividade e a estagnação, o eu e os outros.

Se nesse momento ocorre um acidente que afeta nossa vida, todo esse processo pode se precipitar, mas ainda que nenhum acontecimento exterior nos alcance, finalmente todos os seres humanos acabamos alcançando a crise dos 40 anos e a primeira vez que se recebe a mensagem é talvez a pior. Mas de algum modo devemos aprender a viver com ela.

A 1ª grande percepção que ocorre nessa crise é o Temor a Morte. Como disse G.Scheehy "resulta paradoxo que quando alcançamos a flor da vida também compreendemos que há um ponto em que esta mesma vida deve concluir". ( Apud.Ibid.p.358)

Como a noção de morte pode ser demasiado terrífica para ser encarada de frente, pode aparecer na forma de fobias de avião, fobias de altura, enfermidades psicossomáticas...

A 2ª grande percepção está relacionada com a Noção de Tempo. Existe a vaga sensação de que se encontra costa a baixo na montanha da vida e só nos resta um determinado tempo para encontrar nossa autenticidade verdadeira.

Há uma distorção do sentido do tempo.

Os profissionais pensam: o tempo corre. É necessário vencê-lo. Conseguirei tudo o que desejo antes que seja demasiado tarde?

As donas de casa pensam: me sobra tempo, que farei agora com tanto tempo?

Essa mudança na percepção do tempo necessita ser reavaliado. Todas as nossas noções do tempo necessitam ser reelaboradas em torno da idéia do tempo que ainda nos restam.

A solução da crise da percepção do tempo nos leva a outro cambio de sentido: Atividade versus Estagnação. Se a reflexão nos levou a conclusão de que ‘é tarde demais’, ‘já passei da época’, ‘minha cabeça não dá mais para isso’; o resultado será a Estagnação, decorrente de uma perspectiva distorcida que faz ver o futuro falsamente criando sua própria inércia. Como disse Barbara Fried: "nosso aborrecimento se mistura com a difusão do tempo". ( Apud.Ibid.p.358)

Mas por outro lado, se nossa reflexão nos leva a pensar: ‘vale a pena tentar’, ‘não sei os anos que ainda tenho, se 5 anos, 10 anos, 15 anos ou outros 40 ou 50 anos, nesse caso o melhor que faço é tentar alcançar minhas metas, meus sonhos, pois é melhor viver como desejo, ainda que sejam somente uns poucos anos do que viver frustrado e aborrecido com a rotina’.

Assim a aborrecida rotina se desfará na realização de simples novidades em nossa experiência diária.

Para resolver o problema do tempo é necessário restaurar a confiança no futuro. Sabendo que agora não temos papai e mamãe para nos direcionar. Precisamos visualizar quem queremos chegar a ser no final do processo.

Interessante que a medida que saímos da crise, ainda que de fato nos resta pouco tempo real, a depressão e o tédio desaparecem, pois passamos a considerar o futuro como uma perspectiva mais autêntica porque lhe infundimos Fé.

Outro cambio que ocorre na Crise dos Anos 40 é o Sentido do Eu e dos Outros:
Nossos filhos adolescentes nos vêm como um velho retrógrado assexuado.
Nossos pais esperam que lhes cuidemos e lhes ajudemos.
É nessa época que frequentemente enfrentamos pela primeira vez a morte de seres queridos. O fato de que um amigo ou um familiar morre de câncer, é suficiente para surgir o pensamento: ‘todos os meus amigos/parentes se estão morrendo de câncer’. Se o mesmo fato ocorresse aos 25 anos, o impacto seria diferente do que ocorre aos 40 anos. A tragédia seria deles, mas agora se percebe como uma alerta.

Ocorre também a desilusão: Isso é tudo?

Essa reflexão deve nos levar a abandonar a nossos imaginários provedores de segurança, deixar de crer que conseguiremos toda a felicidade da vida se alcançarmos as metas inalcançáveis do Eu idealizado, para evitar entrar no caminho da depressão crônica.

Se reconheço que nunca poderei ser um concertista famoso, poderei ser feliz no ministério da música que está ao meu alcance.

Se reconheço que nunca poderei ser o presidente do Banco Central, poderei ser feliz como gerente do Banco da minha cidade.

Toda crise nos conduz a 2 caminhos:
- ou nos quebram, nos afastam de Deus e nos tornam pessoas amargas, ressentidas, frustradas ...
- ou nos quebrantam, nos aproximam de Deus e nos tornam pessoas melhores, mais equilibradas, mais estáveis, mais perto da Estatura de Cristo.

Como o cristão deve enfrentar a crise dos 40 anos?
Gostaria de parafrasear 1ª Tessalonicenses 4:13 "Não gostaria, irmãos, que sejais ignorantes acerca da crise dos 40 anos, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança".
Mas como os heróis da fé!

Sempre é bom recordar que a Fé do Cristão não é uma fé mística, mas Fé no que diz Deus em Sua Palavra!

Um comentário:

  1. Bom Dia! Como faço para entrar em contato com a autora para palestra, sou pastora em Taubaté SP e psicológa e faço conferência para Mulheres. Meu imail pra.andreia23@gmail.com
    Abç

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